terça-feira, 14 de julho de 2015

POEMA – Ingrid

INGRID

O quarto era rosa e cheio de desenhos coloridos, com flores, arco-íris e balões.
Pelo chão e sobre a cama havia vários bichinhos e muitas coisas tipicamente infantis,
Como o palhaço inflável, que estava no canto com um sorriso aberto e abobalhadas feições.
Mas, apesar das coisinhas de criança, tudo estava meio esquisito, e nada ali parecia feliz.

Esse era o quarto das bonecas de Ingrid Buendia,
Onde ela deveria estar brincando com sua amiguinha Camila, que estava vestida de fada.
No entanto, de rosto fechado, ela deixava todas as bonecas para a colega
E permanecia apenas a encarando com olhos fixos, sérios e faiscantes, a boca muito apertada.

Camila não entendia o motivo de sua amiga estar sempre muda e se comportando assim,
E muito menos sabia o que ela mesma poderia estar fazendo de errado.
Afinal, ela tinha apenas sete anos de idade,
E não fazia ideia por que Ingrid deixava as sobrancelhas daquele modo tão cerrado.

Algo naquela menina Ingrid era muito estranho,
Pois ela parecia estar sempre pálida e com uma feição sombria.
Ao contrário do que os pais dela imaginavam,
Ela não brincava nunca, e também nunca sorria.

Mas, disso, apenas a inocente Camila sabia.
Camila tinha um pouco de medo dela,
Mas seus pais pediam para que com Ingrid ela brincasse.
“Ela é tão sozinha, a filha dos Buendia”, diziam eles, com pena.
“Poderia fazer bem a ela se na casa dela um dia ou dois você passasse”.

Por isso, ainda que Camila implorasse aos pais para que a deixassem na casa dos avós,
O casal, que ia sair de viagem, preferiu que ela posasse na casa dos Buendia:
Assim, a pequena Camila poderia fazer amizade com a garota e deixá-la feliz,
Tirando-a daquela estranha, precoce e injustificável melancolia.

Mas os pais de Camila não suspeitavam o erro que cometeram ao tomar tal decisão.
E, agora, no quarto com as bonecas, ao lado de um copo com leite e um lanche de presunto,
Ingrid continuava com seu olhar maligno, cheio de ódio,
E a boca se contraía em um botão branco e apertado, como a de um defunto.

Camila procurou se afastar e ir para a sala, para pedir para ir embora,
Mas bem naquele momento o Sr. e a Sra. Buendia haviam saído para comprar refrigerante.
Quando Camila não aguentava mais o olhar da menina malvada sobre si e resolveu sair dali,
A porta do quarto se fechou com um estrondo, e as paredes vibraram por um instante.

Camila pensou em gritar, mas simplesmente não conseguiu.
Ingrid, agora, se aproximava dela e sorria assustadoramente,
Não como uma criancinha alegre,
Mas como uma velha ensandecida e doente.

As lâmpadas do quarto estouraram de súbito, deixando tudo em absoluta escuridão,
E um pavoroso som de origem ignota ecoou pela casa, como a risada de um maníaco demente.
Nesse momento, enquanto Camila chorava, Ingrid, com a mais fria das vozes, sussurrou:
“O diabo está aqui com a gente”. 

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