quinta-feira, 19 de maio de 2016

A Hora do Terror Literário entrevista Melvin Menoviks!

Entrevista concedida ao Renan Souza, do blog Hora do Terror Literário, na qual falo um pouco a respeito de minha relação com a literatura de terror, de minhas preferências literárias e de minhas opiniões sobre a relação entre imaginação e realidade.

Segue a entrevista completa:

Renan Souza: O que te motivou ou o que levou você a criar um livro de contos de terror?

Melvin Menoviks: Sou uma pessoa imaginativamente inquieta desde que nasci. Mesmo antes de compreender isso de forma racional, sempre tive predileção pelo fantástico, pelo onírico e pelas abstrações do mundo mental-sentimental, chegando a sentir até certa aversão da banalidade que é o mundo “real”, no qual somos obrigados a conviver em sociedade todos os dias, fora de nós mesmos. Além disso, eu sempre – sempre mesmo! – fui inclinado às fantasias obscuras, sombrias, da ficção de terror. Desde criança tenho muito medo de terror, mas, em medida muito maior, tenho uma atração irresistível por ele. Na infância, lembro-me que apenas as prateleiras de filmes de terror me atraíam nas locadoras, mas eu não conseguia entrar nelas porque eu tinha muito medo, então eu ficava as olhando à distância, apenas imaginando os mistérios e aberrações proibidas que elas guardavam apenas para mim. Mistérios e aberrações repletas de um perverso prazer, é claro: um misto de perversidade e inocência que considero indispensável para que alguém desfrute da ficção de terror.

Todas essas peculiaridades da minha personalidade, somadas a uma espécie de necessidade pela inovação e pela criação experimental, bem como a alguns fatos que foram ocorrendo ao longo da minha vida, levaram-me a me aventurar pela literatura, e desde então a paixão que tenho pelos livros e pela construção de histórias estranhas só vem aumentando.

Escrever contos de terror, portanto, é uma consequência natural de minha existência: uma necessidade como a de respirar e a de amar.

Renan Souza: Você aplica alguns desses contos na sua vida? Ou melhor: alguns desses contos aconteceu de verdade com você? Se não, de onde você tirou essa criatividade para criar vários contos?

Melvin Menoviks: Todos os contos que escrevi aconteceram de verdade em minha vida. Isso porque, para mim, a distinção entre o real e o que chamam de irreal é tão sutil quanto a distinção entre os devaneios pré-sono e os sonhos propriamente ditos. Viver é um fluxo constante de sonho coletivo, e não acredito que haja diferença considerável entre as memórias que temos da “realidade” e as memórias que temos das ficções que, mesmo sem querer, criamos em nossas mentes supostamente racionais. Alejandro Jodorowsky, um genial cineasta, escritor, quadrinista e surrealista, percebeu isso e criou uma forma de arte terapêutica que ele denominou de Psicomagia. Na Psicomagia, atos surrealistas aparentemente destituídos de significados são praticados pelas pessoas para que estas consigam estabelecer uma comunicação direta entre a mente consciente e a mente inconsciente, alcançando a harmonia interior e eliminando a angústia proveniente dos conflitos entre os desejos e a racionalidade. Seguindo princípio similar, não creio que seja exagero dizer que escrever, para mim, também é uma forma de comunicação entre os mais diversos “eus” que existem dentro de mim.

O que quero dizer com tudo isso é que, tendo os imaginado e trabalhado com dedicação em cada um deles, os contos que escrevi existiram de verdade, pelo menos para mim – e espero que existam também na vida daqueles que os ler.

Ora, quem dirá que uma escultura, que vejo e posso tocar, não existe de verdade? O escultor a imagina, busca os melhores materiais, molda a matéria-prima conforme seus interesses e vontades, lapida-a, dá-lhe forma, apara as arestas, insere novos elementos... enfim, trabalha, tanto com as mãos quanto com a mente, para atingir uma imagem bela, uma figura tridimensional concreta que serve para expressar algo que antes só existia imaterialmente nos pensamentos e no coração do escultor. O mesmo acontece com um conto: o escritor imagina ou sente algo, tenta transmitir isso com palavras, debruça-se sobre dicionários e gramáticas, busca inspirações e referências, trabalha com a sintaxe, com a semântica e com a sonoridade das letras, brinca com vírgulas e pontos, joga com sílabas e significados e, por consequência, habita de verdade o mundo que está sendo criado por suas mãos. Com tudo isso, o escritor vive a história; vivencia cada detalhe de sua criação. Se não fosse assim, eu não teria qualquer motivo para continuar escrevendo.

A esse respeito, tenho um artigo no meu blog que acredito que você vai gostar. Convido-o a conhecê-lo. O artigo se chama “As delícias do terror e as trevas do coração”.

Renan Souza: Você tem algum ídolo escritor? Que outro tipo de livro você curte? E do gênero terror?

Melvin Menoviks: Não costumo utilizar a palavra “ídolo”, porque ela sugere algo como uma devoção excessiva a alguém, uma admiração cega e submissa que não tem muito a ver com a minha personalidade. Em minha opinião, qualquer tipo de idolatria, assim como o fanatismo religioso, por exemplo, é algo limitante demais e muito perigoso, uma vez que prende nossa visão em um único objeto, quando, na verdade, temos todo um amplo horizonte a ser explorado, cheio de mistérios e maravilhas.

Apesar disso, existem, sim, vários escritores que admiro muito, e alguns deles eu poderia até chamar de ídolos. Na literatura de terror, Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, Dean Koontz e Stephen King (apenas para citar os mais famosos) são mestres insuperáveis que merecem total respeito. Fora do terror, leio de tudo um pouco, afinal estou sempre em busca de novos estilos e de novas histórias que tenham algo a acrescentar para mim. Gosto muito de Mark Twain, Dostoiévsky, Joseph Conrad, Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Lawrence Block, Will Self... Cito apenas os que vieram na minha cabeça agora, afinal a lista é enorme e engloba desde clássicos absolutos até literatura verdadeiramente obscura e praticamente desconhecida pela maioria das pessoas, passando inclusive pela literatura despretensiosa dos blogs e páginas da internet e pelos romances populares.

Essa variedade de leituras se dá porque gosto de livros originais, inovadores, que possuam espírito próprio e sinceridade do autor para com sua obra. Não me prendo a gêneros, rótulos ou grau de fama do autor para gostar ou não de um livro. Tudo isso pode até servir de parâmetro de auxílio para se escolher qual livro ler, mas esses parâmetros não definem o que é um livro bom ou um livro ruim, muito menos condicionam minha opinião sobre ele. Para mim, livro bom é aquele que tem alma própria, e isso só dá para descobrir ao ler o livro e se abrir a ele (pois é o leitor que se abre ao livro, e não vice-versa). É como conhecer uma pessoa nova: se você se prender a preconceitos ou mesmo a expectativas, a chance de você se frustrar e se decepcionar é grande; por outro lado, se você olhar para a pessoa sem formular opiniões prévias e procurar o que há de melhor nela, muito provavelmente você vai entender o universo dela, sua mente e suas emoções, e vai gostar dessa pessoa, mesmo que ela seja muito diferente de você. O mesmo acontece com os livros: o importante é haver atenção às particularidades do universo de cada um e saber imergir de verdade nesses universos. Mas isso só é possível de acontecer quando o escritor é fiel a si mesmo no momento de escrever. Livros manifestamente comerciais, em que não há vínculo verdadeiro entre as emoções do autor e suas palavras, normalmente são vazios como o coração das pessoas superficiais, de forma que é melhor fazer qualquer outra coisa – até dormir ou ficar olhando para o teto sem fazer nada – do que os ler.

Renan Souza: Complete as frases:

Eu tenho um sonho de... nunca deixar de sonhar!
Meu maior medo é... não poder sonhar – ou seja: não poder viver.
Meu maior ídolo é... a boa imaginação, seja lá de quem ela vier.
Eu sou uma pessoa... simples, apesar de um pouco esquisita.

***
Além da entrevista comigo, o Renan Souza também fez uma boa resenha do livro "A Caixa de Natasha e outras histórias de horror". Querem conhecer? É só clicar aqui!

Sempre lembrando que o livro pode ser adquirido nas principais livrarias do país ou diretamente comigo, com preço especial + dedicatória + marcadores de páginas exclusivos!

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